Santa Maria da Feira: A Cidade Encantada Parte V
Opinião

Santa Maria da Feira: A Cidade Encantada Parte V

Durante os quatro artigos anteriores, refletiu-se sobre a importância em se proporcionar à Cidade Encantada, ferramentas que lhe permitam captar mais turistas, isto é; visitantes que se alojam nos nossos hotéis e que o façam… ao longo do ano. Sim porque, como todos sabemos, o turismo não é algo que se faz somente nas férias de verão. Todas as oportunidades que o calendário proporciona são aproveitadas, por muitos, para escapar à rotina. Fazem-se férias de Carnaval, de Páscoa e short—breaks em qualquer altura do ano, assim como se festeja entusiasticamente tudo o que houver para festejar: Halloween, S. Valentim, o dia da Mulher, o do Pai e o da Mãe… num frenesi pelas experiências e emoções que delas resultem; numa premência sem precedentes em “IR” e “FAZER” como resposta a um mindset que se pode definir como: “aproveitar enquanto é tempo”.

Aliás, não obstante o cenário marcado “pela subida das taxas de juro, perda do poder de compra, instabilidade política e guerras”, o turismo tem vindo a afirmar-se pela sua transversalidade crescente a todo o tipo de grupos populacionais e enquanto lifestyle da contemporaneidade, tendo-se, inclusive, verificado, neste primeiro trimestre do ano, um aumento de 20% da procura de férias, face ao período homólogo que foi já o melhor da história para o setor. O espaço físico, numa perspetiva de geografia do turismo assume-se assim como um contexto de consumo de per si…

É então neste sentido que a Cidade Encantada tem muito para oferecer…Numa acessão económica, a criação de postos de trabalho e o incremento de negócios nos setores diretamente associados ao turismo, serviços e indústria materializam o propósito incessante de reforço da atratividade e do desenvolvimento de territórios fora das grandes urbes. As requalificações urbanas e paisagísticas, inerentes a vários tipos de intervenções, face à respetiva natureza estrutural destes processos, beneficiam quem vem e quem vai, mas sobretudo um público muito importante: os residentes que passam assim, a usufruir, no seu dia a dia, de infraestruturas construídas ou melhoradas e de uma evolução preservada dos recursos naturais e culturais, no caso, do concelho.

A ideia que se susteve, em primeira mão, foi a de se cultivar vivo, o espirito de fantasia gerada, sobretudo em torno do Perlim e da Viagem Medieval; eleger-se os públicos a atrair e definir-se uma estratégia de marketing que os mobilize para o concelho, contribuindo-se por esta via para um maior crescimento da economia local.

Uma outra perspetiva equacionada incidiu sobre a necessidade de se associar os pontos fortes desta Cidade Encantada, aos de outros lugares fisicamente próximos, não só culturais, como naturais, (do Entre Douro e Vouga, mas também do Porto e Norte de Portugal). A diversidade e diferenciação da oferta patrimonial foi apontada então, como reforço da motivação para o prolongamento das visitas e estadias, bem como para o desejo de as repetir e recomendar a familiares e amigos. Perspetiva-se que a cooperação, ao favorecer o desenvolvimento de complementaridades, economias de escala e a própria inovação, se possa assumir como um importante fator crítico de competitividade e de sustentabilidade.

Destacou-se igualmente a necessidade de se apurar o potencial de associação entre património cultural e turismo, tornando-o económica e socialmente sustentável. Como?…Através, quer da definição de um modelo que permita aferir a relação entre expectativas comerciais, resultantes do valor imputado aos sítios ou lugares de património cultural, como atração turística, quer do desenvolvimento de uma gestão eficiente e eficaz desses mesmos sítios ou lugares (questão privilegiada pelo setor do turismo) versus grau de robustez para suportar elevados níveis de visitas e exigências de conservação, (preocupação dominante para os gestores do património cultural).

A tecnologia associada aos recursos é igualmente referida como uma ferramenta que tende a valorizar grandemente o património. A passividade associada a alguns recursos é percecionada como uma desvantagem por parte sobretudo de públicos mais jovens. A tecnologia favorece a interação, confere uma dinâmica diferente aos espaços e um sentido mais intenso às experiências, potenciando a própria co-criação e a inovação incremental.

Por outro lado, a presença dos story tellers humaniza a relação com o património, proporciona um nível mais aprofundado de conhecimento e pode ser deveras diferenciadora, em função do carisma e competências dos primeiros, para que se estabeleçam relações entre os contextos visitados e os que os visitam.  Escusado será dizer, que também esta interação favorece a internalização de contributos, facultados pelos públicos, e a imprescindível continuidade na inovação.

Quanto a competências…importa relembrar a enfase dada à necessidade de se disponibilizar oferta formativa que promova a capacitação de recursos humanos para a prestação de um serviço de qualidade. De acordo com o estudo realizado antes da pandemia pelo Turismo de Portugal, 58% das pessoas afetas aos setores que servem o turismo, são detentoras do ensino básico. Equacione-se ainda o impacto que uma estratégia concertada pode ter para a absorção de recursos humanos libertados pela indústria que, só em Portugal, entre 2019 e 2023, ascendeu aos 18 mil postos de trabalho ou a 2,6% da força laboral. E o encerramento de fábricas de têxteis, colchões e sapatos, …continua, lamentavelmente…

Muito mais se poderia discorrer sobre esta questão, mas o objetivo da publicação deste conjunto de artigos foi tão somente o de expressar uma OPINIÃO que possa dar, parcial ou integralmente, azo a outros contributos, a outras perspetivas… e acima de tudo a um “pontapé de saída” para se reiniciar e aprofundar o diálogo. Os “ventos” estão a nosso favor…

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