Semana laboral de quatro dias: Menos é mais?
Opinião

Semana laboral de quatro dias: Menos é mais?

Primeiramente, espero que todos os leitores tenham desfrutado de uma Feliz Páscoa, junto daqueles que mais gostam. Dito isto, a temática deste artigo será focada num novo modelo de trabalho, que tem vindo a ser alvo de experimentação por parte das organizações no passado ano de 2022, mantendo-se os testes ao longo deste ano, sob a forma de um “Programa Piloto Semana de 4 dias”, no caso português. De um modo simples, a semana de quatro dias consiste numa redução da carga horária, de cinco para quatro dias de trabalho efetivo, sem comprometer o vencimento mensal dos colaboradores. Contudo, é importante salientar que este regime não é concretizável para todos os setores, sendo que existem indústrias que trabalham 24 sob 24 horas, todos os dias.

Este novo modelo de trabalho traz inúmeras vantagens, tanto para os colaboradores, como para as empresas, começando pelo aumento da produtividade dos colaboradores. Numa perspetiva dita mais “tradicional”, o aumento da produtividade estava diretamente relacionado com a laboração mais intensa dos colaboradores, isto é, produzindo mais no mesmo período de horas. Esta visão intensificou-se com a pandemia de COVID-19, quando os trabalhadores passaram a estar mais disponíveis para responder a solicitações, nomeadamente ao nível de resposta a emails ou chamadas telefónicas. Contrariamente ao que foi referido, atualmente constata-se que colaboradores com maiores períodos de descanso trabalham melhor, sendo que lhes é possível encontrar um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, aumentando os seus níveis de felicidade e satisfação. Para além disto, reduzem-se os custos ligados à exerção da atividade profissional, como por exemplo o uso de equipamentos, de eletricidade, combustível e água.

A par disto, tem-se falado que os avanços tecnológicos são um aliado e que podem vir a acelerar a transição para este modelo. Segundo Christopher Pissarides, professor da London School of Economics, especializado no impacto da automatização no trabalho e vencedor de um prémio Nobel, afirma, segundo a “Bloomberg”, que o mercado de trabalho pode adaptar-se com rapidez suficiente aos chatbots apoiados por inteligência artificial (IA) (como aliás é o caso da aplicação Chat GPT): “Estou muito otimista de que poderíamos aumentar a produtividade (…) Poderíamos aumentar o nosso bem-estar em geral no trabalho e poderíamos tirar mais tempo para lazer. Poderíamos mudar para uma semana de quatro dias facilmente”. Por outro lado, é importante mencionar que fruto da evolução proporcionada pela IA, leva a que muitas pessoas fiquem sem trabalho. Um estudo recente do banco norte-americano Goldman Sachs refere que estes avanços tecnológicos, que levam à automatização de várias funções e empregos, vão colocar uma pressão adicional no mercado de trabalho, deixando em risco cerca de 300 milhões de postos de trabalho nos países mais desenvolvidos.

Tem havido vários estudos com o intuito de perceber o impacto da semana de quatro dias de trabalho, sendo de realçar o estudo realizado no Reino Unido, a cerca de 61 empresas, num total de cerca de 2900 trabalhadores, e que ocorreu entre junho e dezembro do ano passado. Os resultados foram esclarecedores: 91% das empresas participantes não planeia voltar à semana de cinco dias; revelaram-se melhorias ao nível do stress e da fadiga; a taxa de absentismo diminui em cerca de 2 terços (dois dias para 0,7); as receitas das organizações aumentaram em 35% em comparação com períodos semelhantes de 2021; e, por último, as empresas classificaram a experiência global em 8,5, numa escala de 0 a 10.

No contexto português, analisaram-se os resultados de uma empresa (360imprimir.pt) que implementou o modelo da semana de quatro dias de trabalho e que contou com a adesão de 98% dos colaboradores, num total de 200. Em termos gerais, os valores obtidos estão em linha com o que foi constatado no estudo mencionado anteriormente: aumento da satisfação dos colaboradores; redução dos níveis de stress, fadiga e ansiedade; maior atração e retenção de talento; e elevado nível de satisfação das chefias com o desempenho obtido das suas equipas.

Feita esta análise, percebe-se que este modelo de trabalho traz benefícios aos colaboradores e empresas. No entanto, teremos de esperar pelo futuro para ver se será, ou não, uma prática a implementar nas empresas, representando um “novo normal”.

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Gustavo Tavares Pé D'Arca
COLUNISTA
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