Santa Maria da Feira, a Cidade Encantada: Parte II
Opinião

Santa Maria da Feira, a Cidade Encantada: Parte II

Ora então cá estamos, cumprida com grande dignidade e emoção a tradição em honra de S. Sebastião, mergulhados no nosso inverno e imbuídos da esperança de “nos safarmos” em 2024 com saúde e… porque não com mais “sorte” nos negócios… Afinal, se quanto à saúde, mesmo contando com a “solidariedade do nosso Mártir” e a correr mais e mais depressa, nada é garantido, no que aos negócios respeita, a Cidade Encantada talvez possa “magicar” uma forma de abrir caminho para conquistar o estatuto de destino turístico…

Foi justamente sobre a viabilidade desta transição que se tratou o artigo anterior. Uma reflexão sobre a possibilidade de se definir uma estratégia que, ao longo do ano, sirva aqueles que de forma direta, mas também indireta, beneficiem com o turismo, envolvendo-se a restante comunidade no sentido de a todos ouvir, respeitar e comprometer…como objetivo final.

O mais difícil está feito: um Castelo, real, com toda uma história efetivamente documentada e a recreação bem sucedida de contextos encantados que nos transportam, ora para o passado, com a Viagem Medieval em Terras de Santa Maria, ora para um mundo de fantasia, onde todos podemos ser crianças e viver a quadra natalícia ainda com mais magia, com o Perlim… Manter algum do brilho gerado, não deixar a Cidade Encantada às escuras…ideia que parece querer desabrochar…ao manter-se o simpático comboio turístico a percorrer a cidade durante estes frios e cinzentos dias de janeiro…o que se pode considerar, desde já, um de vários objetivos intermédios. Mas Santa Maria da Feira ainda tem outros valiosos pontos fortes e é nessa aceção que se torna imperativo fazer referência às estruturas existentes ao nível da gestão de turismo (DMO-Destination Marketing Organization)…e ao empenho que colocam nas atividades que asseguram ou promovem, como é o caso da autarquia, da empresa municipal Feira Viva, SA e da Sociedade de Turismo de Santa Maria da Feira. Para além destas, temos outras, cujo papel na preservação e reforço da notoriedade dos símbolos culturais mais emblemáticos, tem sido valioso. É o caso da Confraria da Fogaça, da Comissão de Vigilância do Castelo e da própria Misericórdia. Existem ainda outras facilmente conotáveis com o turismo cultural, como é o caso dos museus e uma instituição de ensino superior, o ISVOUGA (responsável pela organização do congresso de história medieval, no ano de 2001) e que disponibiliza oferta formativa em Gestão de Turismo…entidades que juntas podem contribuir para a dita transformação.

Sobre o Castelo em si, relembremos a tendência instalada para a valorização crescente do património histórico como expressão genuína do local e do autêntico (“the “authenthic”); dos recursos culturais exclusivos (“the unique”) e o desejo de rutura com a normalização e padronização de um crescente conjunto de marcas globais e atrações replicáveis. Um atributo que dá então resposta a motivações que assentam na procura de cultura, património e civilizações, numa busca pelas raízes, proporcionando-se a compreensão do que uma dada nação concretizou e as características particulares da sua própria cultura.  No limite, constitui uma importante fonte de prazer pelo poder de representação das concretizações da humanidade. Por outro lado, realce-se o caráter cénico de que se reveste, ao assumir-se, juntamente com a respetiva envolvente, como elemento motor em torno do qual gravitam os maiores eventos de animação turística da Cidade. Uma dualidade que ao oscilar entre os factos históricos e narrativas mais fantasiadas, responde a motivações de públicos distintos e muitas das vezes a diferentes motivações de um mesmo público. Na verdade, os consumidores são muitas das vezes por definição, ecléticos e, no caso dos turistas, tanto apreciam uma visita ao património cultural que assente numa versão mais purista suportada por fontes históricas, como numa versão deixada à imaginação de quem o interpreta, lendária e plena de mistérios. As duas conferem-lhe vida e atratividade, complementando-se.

O desafio está pois, em conseguir-se que os que nos visitam, sejam quais forem as respetivas motivações turísticas (culturais ou de entretenimento ou as duas), sejam impelidos a permanecer no território, por mais tempo e que as visitas ou estadias ao longo do ano, sejam em maior número. Desta forma, perpetuar uma centelha que seja das experiências associadas a estes dois megaeventos, poderá ajudar a Cidade Encantada a fazer a transição de cidade visitada para cidade com turismo, atividade fundamental para dinamizar o setor do comércio, restauração, hotelaria, serviços e a própria indústria. É aliás, nessa perspetiva, que importa explorar o potencial associado à disponibilização de mais e diferentes recursos. Criar diversidade e diferenciação, reforçar a atratividade, suscitar novas motivações para um “passa palavra” positivo, captar mais público e públicos diferentes e vontade de repetir as experiências vivenciadas, sugerindo-se inclusive a conceção de um cluster de turismo de base regional, em que o “melhor ou melhores recursos” de cada lugar justifiquem então tornar as visitas de um dia ou de partes de um dia, em algo mais prolongado no tempo e que estas ocorram ao longo do ano.

Na Parte III desta saga, sobre a Cidade Encantada, aprofundaremos estas e outras questões relativas a outras ferramentas de que dispomos para sermos irresistíveis como anfitriões ou verdadeiramente Encantadores…

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