Pouca confiança nas negociações
Reportagem

Pouca confiança nas negociações

O secretário-geral da Fenprof – Federação Nacional dos Professores, Mário Nogueira, considera que “há mais possibilidades de haver respostas se houver pressão sobre o Governo do que se não houver”. No entanto, face ao passado recente, as professoras do Agrupamento de Escolas Fernando Pessoa, Helena Ferreira e Marisol Valente, não se mostram confiantes nas negociações dos sindicatos com a tutela

O Ministério da Educação convocou para os dias 18 e 20 a terceira ronda negocial sobre a revisão do regime de recrutamento e mobilidade de pessoal docente, tendo a Fenprof, na sequência disso, convocado uma manifestação para o dia da última reunião.

“Parece-nos que há mais possibilidades de haver respostas se houver pressão sobre o Governo do que se não houver. Por isso é que, depois de termos sabido que havia reunião no dia 20, no Ministério da Educação, foi convocada uma grande manifestação/concentração para dia 20, à porta do Ministério da Educação”, declarou Mário Nogueira, à entrada para um plenário de professores do Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel, em Coimbra.

O secretário-geral da Fenprof é da opinião de que se, no dia 20, “as respostas forem as que se exigem, a luta poderia parar”. No entanto, mostra-se pouco confiante nisso, assim como os que representa. “Dados os constantes ‘ouvidos moucos’ do nosso ministério, tenho dúvidas. Tenho alguma esperança, espero que haja abertura por parte do Governo, mas duvido que atendam a algumas reivindicações”, confessa a professora Helena Ferreira, mostrando confiança apenas na efetivação de professores contratados num menor período. “Já no que respeita à progressão na carreira, como a recuperação do tempo de serviço congelado, que é o que envolve dinheiro, tenho sérias dúvidas”.

Marisol Valente tem as expetativas ainda mais baixas. “Estamos habituados a esta indiferença e a medidas para ‘tapar buracos’. Por isso, não estou confiante. É incompreensível que o Orçamento do Estado não contemple mais dinheiro para a Educação e os professores continuem a ser os sacrificados. Não podemos desistir, vamos continuar a lutar, porque isto é a nossa vida. Se continuarmos as greves e houver uma mudança, os alunos vão ficar a ganhar”, acredita.

O ministro da Educação, João Costa, já comunicou ao país que o Governo vai apresentar, na reunião negocial com sindicatos, propostas para a revisão do regime de recrutamento e mobilidade que vão “mais além” face àquilo que os professores pedem.

“Recebemos as propostas dos sindicatos e posso adiantar que vamos mais além do que aquilo que os sindicatos nos responderam, de reduzir significativamente as zonas pedagógicas para evitar deslocações muito grandes dos professores dentro do território”, disse à margem de uma visita à Escola Portuguesa de Luanda, Angola.

Ainda segundo o que noticiou recentemente um canal de televisão, o Governo está disponível para vincular professores após três anos de contratos.

Vários estabelecimentos de ensino concelhios encerraram

As declarações dos governantes não têm convencido os docentes, que exigem propostas concretas. E enquanto o pretendido não surge, está em marcha, até 8 de fevereiro, uma greve por distritos, convocada pelas oito organizações sindicais da profissão. Em Aveiro, realizou-se terça-feira, dia 17, somando-se à última semana de contestação, que encerrou vários estabelecimentos de ensino do concelho de Santa Maria da Feira.

Em Argoncilhe, a EB 2/3 encerrou quatro dias consecutivos, enquanto em Fiães, a escola sede já encerrou por duas vezes no espaço de uma semana. A situação repercute-se noutros agrupamentos de escolas, sendo exemplo disso o Agrupamento de Escolas de Santa Maria da Feira. Na sexta-feira, dia 13, a EB 2/3 Prof. Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida, assim como duas escolas do 1.º ciclo e um jardim de infância não abriram. Dois dias antes, na quarta-feira, dia 11, os docentes fizeram um cordão humano por melhores condições, que reuniu cerca de 55 pessoas. Já na manhã de terça-feira, dia 17, os alunos juntaram-se à concentração de professores em frente à Escola Básica e Secundária de Santa Maria da Feira.

Na quarta-feira, 11, vários docentes das Escolas Fernando Pessoa levaram a cabo ações de protesto, efetuando greves ao primeiro tempo. Já no Agrupamento de Escolas de Paços de Brandão, a onda de protestos teve repercussões maiores na última terça-feira, aquando se encontravam 79 professores em greve num universo de 110. Entre escolas básicas e jardins de infância, em cinco estabelecimentos de ensino os alunos ficaram sem aulas.

Em sentido inverso, no Agrupamento de Escolas de Canedo e Corga do Lobão, a greve dos docentes não teve uma forte adesão, não tendo, por isso, encerrado nenhum estabelecimento de ensino, segundo informaram as duas direções, no dia 13 de janeiro, ao Correio da Feira.

Tentámos contactar os agrupamentos de Lourosa e Arrifana, mas sem sucesso.

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Márcia Soares
JORNALISTA | Licenciada em Ciências da Comunicação. A ouvir e partilhar as emoções vividas pelas gentes da nossa terra desde 2019.
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