Etelvina Araújo
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Etelvina Araújo

“Não me perguntem como morri, mas como vivi”

Jorge de Andrade

Na passagem das estações caem algumas folhas e com elas a árvore da vida que construímos vai ficando mais despida, entrando-se no Outono da vida.

Em homenagem a uma dessas folhas, que na semana passada voltou para os braços da Mãe Terra, vou partilhar com os nossos leitores um momento vivido com queridos amigos meus, Etelvina Araujo e Francisco Proença, Helena e Adelina Portela e a Conceição. Uma viagem inesquecível.

Embarcados numa viagem de grupo à Índia, que comemorava um aniversário, da mais prestigiada revista de viagens que se editava e ainda se edita em Portugal, visitávamos a cidade Sagrada de Varanasi, conhecida como a cidade da morte.

É ali que todos os hindus desejam acabar os seus dias, perto do rio Ganga (Ganges), para que as suas cinzas sigam a corrente das águas, caminho mais directo para nos fundirmos com o universo, evitando assim as intermináveis reencarnações.

É necessário despertar antes do nascer do sol para assistirmos às belíssimas cerimónias, que se realizam nas suas margens e antes de embarcarmos fazer o ritual de agradecimento. Oferecemos ao rio um pequeno barquinho cheio de pétalas, com uma lamparina acesa, que se perderá nesse curso imenso de água, levando as nossas preces e desejos a …

Seguimos rio acima para assistirmos às cremações, aproveitando o momento para responder às perguntas constantes, sobre tudo o que assola a curiosidade dos nossos companheiros de viagem, motivada pela experiência que estamos a viver. Na medida do que nos é possível, transmitimos a máxima informação, mas acima de tudo é necessário desmistificar, muito do que já escutaram anteriormente sobre a cidade, especialmente sobre o rio.

Após esse exercício que na maioria das vezes é interminável, a relutância inicial, relativamente à água do rio, parece desvanecer e o que para nós era profano, passa a um estado de Graça, acabando por aceitarem uma especial bênção e trazer o pequeno recipiente em bronze com água do rio sagrado.

O ponto alto deste cruzeiro é uma pequena paragem frente ao crematório. A imagem é sempre a mesma, independentemente das pessoas que me acompanham. Para mim, foi sempre muito comovente observar os meus passageiros, a forma como se transformam. De faladores e inquisidores de todas as curiosidades, passam simplesmente ao Homem contemplativo, perdido nas suas incertezas e perguntas, tal criança receosa no seu primeiro dia de escola. Naquele momento reduzimo-nos à nossa insignificância e deixamos no ar uma pergunta, a eterna…

E agora, como será?

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Jorge Andrade

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