As fotografias perdidas do vereador
Opinião

As fotografias perdidas do vereador

O Correio da Feira noticiou, na sua edição de 27 de outubro, a inundação ocorrida na Escola de Santo António, em Rio Meão: uma situação recorrente sempre que chove, conhecida há anos pela autarquia, que nunca a resolveu.

Efetivamente, sempre que está tempo de chuva, chove igualmente dentro da sala 1 do Jardim de Infância da Escola, tendo o ‘spot’ do ‘pinga-pinga’ sido fotografado pelo próprio vereador da Educação, Gil Ferreira, em abril de 2022, aquando de uma visita que ali fez. Foi na altura um sossego para toda a comunidade escolar o vereador ter tirado uma fotografia a um teto problemático, porque todos acreditaram que um vereador tirar fotografias resolvia problemas.

A escola em questão não tem recreio coberto; o originalmente existente foi transformado em refeitório há muitos anos e o que desde então foi usado como espaço (improvisado) para aquele fim, deixou de estar disponível há uns meses por ter estado desde então a ser convertido numa biblioteca, que aguardou inauguração até à véspera da data da presente edição do Correio da Feira (até ontem, portanto, fechada).

Assim, enquanto as crianças da Escola de Santo António a veem alagar quando chove e deambulam como podem pelos corredores, por não terem um espaço coberto onde brincar, o vereador do pelouro anda excitadíssimo a espalhar Cultura e a representar o Concelho por esse mundo fora, perdendo-se na sua verborreia pausada e fina e no seu permanente estilo de propaganda. Ainda que depois de todo aquele esforço não haja propriamente uma evidência de o Concelho estar mais culto, os assuntos de índole cultural são prioritários e muito estratégicos, e temos de os saber respeitar, sobretudo quando comparados com ocorrências tão mundanas e enfadonhas como chover dentro de uma escola, ou crianças não terem onde brincar quando chove.

Este claríssimo distanciamento entre o vereador Gil Ferreira e a escola não é de agora: a forma como escreve demonstra que a relação nunca terá sido de particular intimidade, e aos pontapés na gramática que dá também quando fala, é de admirar não ter ainda sido convidado a tomar conta do pelouro do Desporto, já que certamente dali viria um novo alento para o futebol.

Escreveu recentemente este ‘super-vereador’ que “Uma escola é um centro cultural”. Melhor seria ter escrito que “Uma escola é um centro cultural onde não chove”, porque nas escolas que são só escolas, bem se vê que a cultura é outra. E em centros culturais, não é de crer que o ‘senhor Cultura’ do Concelho permitisse que chovesse…

É pena que nenhuma das pessoas que em torno deste personagem orbitam, como moscas à volta de comida estragada, seja capaz de o trazer à terra e de lhe dizer que o exacerbar de ‘cultura’ que pratica é revelador da mais profunda forma de parolice. E, entretanto, o resto vai ficando indefinidamente por fazer.

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Rui Vaz Ribeiro

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COLUNISTA
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