A precariedade é um “pecado” social
Opinião

A precariedade é um “pecado” social

Joaquim Dias,

Dirigente Bloco de Esquerda

A cartilha bíblica neoliberal do fim da centralidade do trabalho e suas ideias implícitas naturalizam o modelo capitalista, buscando, apenas e só, caminhos dentro deste modelo ideológico.

As teorias do fim do trabalho, das classes, da luta de classes e da sociedade do trabalho preparam um quadro de fim da história, tentando demonstrar a vitória do capitalismo e da chamada democracia liberal (que de democracia nada tem) como único formato de governação.

Do ponto de vista político, o discurso do fim do trabalho, na prática, o que gera de mais efetivo é um caldo de cultura que vai contra os interesses dos trabalhadores. Criando assim a ditadura da inevitabilidade que, por conseguinte, amestra quem trabalha à ideia de que não vale a pena sequer resistir a ser explorado.

É neste quadro que emerge a desregulação laboral, que é hoje uma poderosa arma usada até à exaustão como forma de acumulação de mais-valia por parte da ideologia dominante.

São variados os formatos de retirada de direitos que têm sido impostos a quem trabalha ao longo dos últimos anos. A precarização é das mais cruéis, porque para além de colocar quem trabalha numa situação de fragilização total na relação laboral, impõe o medo, que por consequência destrói quaisquer resistências por parte das vítimas em relação aos seus opressores.

É neste quadro existente que o combate tem de ser efectuado, tanto no sector privado, como público, pelo fim do trabalho precário.

Romper com a precariedade é devolver dignidade a quem trabalha, é reaver direitos laborais, criando estabilidade social e recuperando a democracia, que é vandalizada sempre que alguém vê os seus direitos diminuídos.

O Bloco de Esquerda na última Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira apresentou uma proposta para implementação de um processo de regularização de todos os vínculos precários existentes na autarquia, recorrendo aos mecanismos previstos no PREVPAP e conforme o N.º 3 do artigo 2.º da Lei no 112/2017.

O PSD chumbou a proposta. Estranho? Não. Está no código genético laranja esmagar os fracos para engordar os fortes. O mesmo PSD que apoia fervorosamente as recomendações do FMI sobre a necessidade de mais flexibilização laboral. Por muita água benta que se passe no tecido, a nódoa nunca sai. É a marca de água…

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Joaquim Dias

Joaquim Dias
COLUNISTA
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